Ferida.

Há tantas formas de se ferir alguém, mas o que importa não é como ou onde se foi feita a ferida e nem o quanto ela dói, mas o quanto ela demora para sarar. Já me feri diversas vezes e as dores foram tão intensas que pensei até que me faria cicatrizes eternas e doeria para sempre, me enganei. Geralmente as dores mais intensas são curadas mais rapidamente, as eternas são as que latejam, que se escondem por um tempo e voltam sem motivo, que voltam só por voltar, para deixar o recado de que elas ainda estão ali, ainda que não haja nem cicatrizes. Todo fim provoca ferida, seja ele qual for, e para cada fim diferente há uma dor diferente, uma cicatrização diferente, um processo de cura diferente. Comparo o fim do amor como um ferida causada por estilhaços de vidro que dependendo da força podem só arranhar a pele como podem penetrar fundo. Ouvir dizer de um homem que amou tão intensamente que quando os vidros quebraram lhe penetraram a pele e ainda assim ele amou, e sentiu a dor lhe rasgar e ainda assim ele amou, e doeu em cada parte de si, mas ele amou; as feridas cicatrizaram e ele continuou amando, a dor que outrora lhe consumia sumia, e ele ainda assim amou; já não tinha vestígios de vidro mas ainda assim ele amava e amou tanto que sem saber onde às vezes ainda lhe doía; ainda amava mesmo sabendo que não devia. O tempo passou e ele esqueceu que amou até que um dia alguém lhe aperta no peito e ele sente algo o ferindo de dentro para fora, uma dor cortante que a muito não sentia, mas que covardia! ainda lhe restava um pedaço de vidro no peito que ele não via e nem sentia. Ô Deus do céu! que em mim não haja vidro e se houver que ninguém o encontre, que eu nunca o sinta e nem o veja, que morra comigo sem que eu perceba.

A Paz de Jah!

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